Há dez anos, na Herdade Maria da Guarda, em Serpa, não se produziam mais do que 500 kg de azeite. Uma década volvida e a herdade, que já produzia azeite durante a época romana, tem o maior olival do país. Uma história de sucesso que implicou uma reviravolta na vida do proprietário, João Cortez de Lobão.
As voltas da vida
Começou pelo jornalismo, primeiro no Tempo e depois no Expresso. Seguiu pelo setor financeiro em Nova Iorque – trabalhou, inclusivamente, nas Torres Gémeas até 2000, um ano antes do 11 de setembro. Quando recebeu a ‘convocatória’ para a reunião familiar sobre os destinos da Maria da Guarda pertencia à alta direção do BCP, tinha carro, prémios anuais, boas perspetivas para a reforma. «Zanguei-me com o meu pai porque achava mal vender. Ele respondeu-me que lhe doía muito mais a ele ser o autor da venda do que a mim, mas disse que não venderia se houvesse uma solução».
E João arranjou-a, optando pela decisão que, «economicamente», não era a que fazia mais sentido: despediu-se. «No banco perguntaram se estava com alguma crise de identidade», recorda. No último dia de trabalho, no final de novembro de 2006, meteu-se no comboio para se ir despedir da equipa do Porto. «Cheguei lá e disse que ia ser azeiteiro, que no Alentejo é uma expressão usada para designar alguém que faz azeite, mas que no Porto tem uma conotação negativa e desataram a rir-se».
Dez anos depois, os resultados falam por si. Nesta altura do ano, o lagar processa cerca de 50 toneladas de azeitona por dia, tanto a proveniente dos olivais da herdade como a de outros produtores. «Quanto mais houvesse mais vendíamos». Os tempos na Maria da Guarda são de prosperidade: mas os três primeiros anos foram muito difíceis.
A apanha também está otimizada ao máximo: quatro máquinas cavalgantes fazem o trabalho de muitas mãos. Dali a azeitona segue para o lagar e, em menos de seis horas, o processo de transformar a azeitona em ouro líquido está completo.
Prevê-se que a produção de 2017 supere a do ano anterior. Problemas com a seca? «Haveria se a produção fosse de sequeiro. Mas grande parte do olival é regado», explica o produtor, contando que a água chega do Alqueva.
Do Alentejo, o azeite da Maria da Guarda segue para todo o mundo, mas principalmente para Itália. «Os italianos têm canais de distribuição imbatíveis», comenta. De Itália, o azeite segue para o resto do mundo com o rótulo da União Europeia. Um negócio que Portugal está a dar cada vez mais cartas.