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Olivicultores reforçam investimento nas novas tecnologias

Bom e barato só com a ajuda da tecnologia. Na Herdade Maria da Guarda vale tudo para se conseguir um azeite digno do Império Romano: apanha mecânica, software de gestão, drones e sistemas de Inteligência Artificial.

Mais de um milhão de oliveiras espalham-se ao longo dos 630 hectares de terreno, numa geometria bem definida: uma árvore a cada metro e meio, um corredor de quatro metros a separar cada linha. Desde o primeiro momento, quando a família Cortez de Lobão decidiu trocar, em 2005, os cereais pelo olival, na propriedade do século XVIII Herdade Maria da Guarda, em Serpa, que se tornou clara a opção pela tecnologia e automação. Desde logo, na disposição das árvores, com o espaçamento definido à medida das máquinas de apanha, naquele que se chama de ‘olival moderno’.

Na época da colheita, que em Portugal acontece em meados de outubro, sempre quinze dias antes do resto da Europa mediterrânica, apanham-se 80 toneladas de azeitonas por dia. Uma eficiência que se reflete em preços mais baixos e uma rapidez que se traduz em menor acidez do azeite, já que quanto menos tempo o fruto ficar em contacto com o ar, antes de entrar no lagar, menor a oxidação. Mas o método de cultivo e apanha foi apenas o ponto de partida. Logo a seguir, veio a adoção de um sistema de identificação de problemas na propriedade, como um animal morto no terreno ou uma fuga de água.

Todos os colaboradores utilizam uma aplicação instalada no telemóvel para registar os problemas e marcar o local do incidente através de GPS. “Desde o início que sentimos necessidade de procurar soluções informáticas”, admite João Cortez de Lobão.

ADEUS AO EXCEL

O passo seguinte passou pela encomenda de um software a partir do qual se pudesse fazer toda a gestão da atividade da Herdade, desenhado à medida das

necessidades da empresa pela tecnológica PDMFC. “Andávamos com ficheiro Excel para a direita e para a esquerda, quando havia uma crise não atualizávamos”,

observa o administrador Carlos Martins. Agora, tudo está disponível no ecrã do computador e atualizado ao minuto. A partir do momento em que a azeitona é pesada entra no sistema e não mais se lhe perde o rasto. Fica registada a origem, variedade, a zona de produção. Também o azeite produzido, a cuba em que está, as amostras feitas para o cliente provar. “Antes era tudo um bocado a olho. As amostras tinham como referência o número da cuba, mas às vezes acontecia azeites

diferentes terem a mesma referência”, continua Carlos Martins. Todos os 40 colaboradores da empresa têm acesso à aplicação, que serve também para registar os contratos, a lista de clientes do lagar. “Está tudo centralizado e acessível, o que nos permitiu ganhar eficiência e detalhe”, complementa João Cortez de Lobão.

Esta parceria feliz com a PDMFC abriu caminho a voos, literalmente, mais altos. E através da spin off da tecnológica dedicada ao fabrico de drones começaram um projeto, com financiamento europeu, de utilização destes veículos para supervisão da propriedade. O primeiro objetivo é monitorizar o nível de hidratação no terreno. “A azeitona é muito sensível à água”, aponta João Cortez de Lobão. Através de imagens captadas por câmaras multi-espectrais, a bordo do drone, será possível identificar falhas no abastecimento de água, roturas na rede de rega, ataques de animais. Com o método de vigilância habitual, uma pessoa numa moto, podem demorar duas semanas até passar na área afetada. Com um drone, é possível programar uma missão diária de vigilância a toda a exploração. O sistema de Inteligência Artificial que faz parte do drone é capaz de analisar as imagens e detetar qualquer alteração no olival ou monitorizar a evolução de parâmetros pré-definidos pelos produtores. “Conseguimos atingir uma precisão de dois centímetros”, avança Luís Miguel Campos, fundador da PDMFC. Uma plataforma dedicada permite gerir a atividade dos drones, armazenar as imagens recolhidas e enviadas através de um modem incorporado no veículo, processá-las e interpretar os resultados.

Praticamente todo o azeite produzido na Herdade Maria da Graça tem como destino a exportação, em particular para o mercado italiano. “Desde os tempos do Império Romano que temos o melhor dos azeites, o Lusitânia servia as elites em Roma. Hoje ganhamos os prémios todos nos concursos de azeite”, diz Cortez de Lobão. A nosso favor está o terreno, os ares do Atlântico, o clima, que permite a tal antecipação das colheitas em duas semanas. E agora também a modernização, que torna mais acessível um produto que antes só estava presente nas cozinhas mais abastadas.

 

Em: Exame Informática