In Notícias

Nunca na sua vida pensou em ser agricultor. João Cortez de Lobão começou a carreira como jornalista. Fazia todas as semanas a análise de Bolsa no jornal Expresso.

Na década de 90, decidiu mudar de vida e entrou para o setor financeiro como gestor de um fundo de investimento. Em 2006, o irmão que tomava conta da herdade Maria da Guarda, em Serpa, quis deixar a atividade. O pai reúne a família e decide que, se nenhum dos filhos quer “fazer pela Herdade” terá de a vender. Os terrenos da Maria da Guarda estavam na família há mais de 300 anos. João sente que não pode deixar que esta passe a ser pertença de outros. Fala com a mulher, compra a parte dos irmãos com recurso a crédito bancário e decide mudar-se de armas e bagagens para o Alentejo profundo.

“Foi uma mudança de vida radical. Ao princípio, não sabia bem o que fazer. Ainda pensei em produzir vinho, mas a dificuldade de criar uma marca fez-me mudar de ideia. Optei pelo olival e por um modelo de negócio de venda a granel aos grandes distribuidores do mercado mundial”, lembra.

Mas nem tudo foi fácil. Após plantar o olival, veio a crise financeira de 2008. As árvores estavam no primeiro ano de produção e já os bancos lhe batiam à porta para que reduzisse a dívida. “Pensei várias vezes na estupidez em que me vim meter. Sei que a decisão foi na altura mais emocional do que racional”, conta. Esteve próximo de desistir, mas conseguiu aguentar a pressão da banca até vender a sua primeira colheita. O azeite era de boa qualidade e depressa ganhou clientes em Itália. As primeiras receitas deram para equilibrar as contas. “O que este setor tem de bom é que quem compra paga quase a pronto. Eles vêm cá, provam o azeite e pagam na altura”, diz.

Dificuldades passadas, atualmente a Herdade Maria da Guarda tem 1,3 milhões de oliveiras plantadas, numa área de 600 hectares. Produz mais de 2 milhões de toneladas de azeite e é responsável por 3% de toda a produção nacional. Ao todo, já investiu 14 milhões de euros, parte dos quais na construção de um novo lagar.

A produção é quase 100% destinada ao mercado externo. “Conseguimos produzir mais cedo do que os nossos principais concorrentes e isso é uma enorme vantagem competitiva porque vendemos a um preço mais elevado”, esclarece.

Em 2015, Portugal conseguiu a maior produção de azeite das últimas décadas, atingindo as 106 mil toneladas. Só recuando a 1961 podemos encontrar níveis de produção semelhantes. Entre 2009 e 2016, as nossas exportações de azeite quase triplicaram. O Alentejo é a região do País onde o olival mais tem crescido. A tendência de crescimento poderá continuar em alta, pois muitos hectares que foram plantados recentemente irão começar a dar fruto nos próximos dois a três anos.

O maior operador português deste setor é a Sovena, uma empresa do grupo Jorge de Mello e proprietária do Oliveira da Serra, que tem produção em Portugal, com mais de 9 mil hectares plantados, em Espanha (1 500 ha) e Marrocos (1000 ha). Tem ainda lagares nestes três países e é um dos maiores produtores de azeite do mundo.

Fonte: in Revista Visão, Paulo M. Santos (páginas 40 a 42)